O desenvolvimento emocional e social ao longo da idade escolar (de 6 a 11 anos), como vimos no info anterior, o crescimento cognitivo possibilita que as crianças desenvolvam conceitos mais elaborados sobre ela mesma, assim como maior controle emocional.
Mas o que é a emoção? A emoção pode ser definida como uma resposta (tristeza, medo, raiva, alegria) que é produzida por uma informação que vem do mundo externo ou interno a nós. Elas podem ser positivas ou negativas, são automáticas, inconscientes e preparam o nosso corpo para agir diante do perigo, de situações incômodas ou mesmo diante de situações prazerosas. Ao tomarmos consciência dessas reações emocionais, experimentamos sentimentos que precisamos aprender a reconhecer e a lidar. Cada vez mais tem sido reconhecida a importância da inteligência emocional (BISQUERRA, 2012), a capacidade de nos conhecermos, de saber ouvir, de se colocar no lugar do outro, da solidariedade, da convivência, enfim, de viver melhor.
Nessa fase, as crianças vão se conscientizando de seus próprios sentimentos e dos sentimentos dos outros e começam a controlar melhor suas emoções em situações sociais. O crescimento emocional se expressa em autocontrole de emoções negativas. Sabem as emoções que as deixam tristes, bravas ou amedrontadas e, inicialmente, podem reagir a elas de formas inadequadas (agressivas ou tentando não reconhecê-las), mas, com ajuda do adulto, podem aprender formas mais adaptativas de identificá-las e expressá-las. Se contrariada, uma criança em idade escolar pode apresentar agressão física ou verbal contra quem a contrariou e, nesse caso, o professor ou os familiares podem ajudá-la a entender os motivos do outro e identificar outras formas de expressar seu descontentamento que não seja agredindo-o. Os ambientes familiar e escolar são fundamentais para o desenvolvimento do controle da emoção e da autoestima (sentimentos positivos acerca das suas possibilidades, confiança em si mesmo, a maior facilidade em aceitar desafios). Felizmente, as crianças retraídas e isoladas estão, atualmente, recebendo maior atenção por parte dos adultos significativos. O que antes parecia um comportamento adequado, com a máxima de que “criança quieta é criança educada”, tem sido motivo de preocupação e, às vezes, é realizado o encaminhamento dessa criança para o atendimento psicológico. E isso é bom! Uma criança retraída pode preocupar-se excessivamente com seu desempenho em uma situação social, desenvolvendo um padrão de impotência para lidar com essas situações.
O desenvolvimento de comportamentos pró-sociais, são aqueles que promovem interações sociais que nos dão oportunidade de aprender outros comportamentos, ajudam as crianças a tornarem-se mais empáticas em situações sociais, livres de emoções negativas e competentes para enfrentar os problemas de maneira mais construtiva. Na escola, por exemplo, trabalhar em sala de aula com estratégias de encenação de situações do cotidiano e que também envolvam a troca de papéis, auxilia na compreensão do problema sob o ponto de vista do outro. É um passo decisivo para o desenvolvimento da empatia. Em casa nada impede que também se utilize do brincar de teatro para realizar combinados, esclarecer as regras familiares e fortalecer a que a criança aprenda a se colocar no lugar do outro.
Aspectos da família podem interferir no desenvolvimento de comportamentos psicossociais da criança. Com o aumento gradativo da presença da criança na escola em tempo integral, o papel desse contexto escolar no desenvolvimento dessas habilidades torna-se crucial. A equipe escolar pode acompanhar e desenvolver ações que auxiliem no desenvolvimento de um repertório de comportamentos pró-sociais que resultem em interações sadias entre pares e adultos significativos.
As muitas configurações familiares possíveis, com ênfase nas famílias reorganizadas, frutos de separações e recasamento, podem resultar em variabilidade de normas e regras que, nem sempre, as crianças conseguem apreender e discriminar como devem se comportar em cada um dos locais, de forma a responder eficientemente a elas.
Hoje em dia cada vez mais casais só possuem um único filho, relacionar-se com pares da mesma idade cronológica é muito importante para o aprendizado de comportamentos pró-sociais. São nessas relações, que nossos filhos adquirem senso de identidade, habilidades de liderança, de comunicação, de cooperação e de papéis, além de regras. É o início do afastamento dos pais, já que o grupo de amigos abre novas perspectivas (PAPALIA; OLDS; FELDMAN, 2006).
Mesmo muito próximos ainda da família, é uma época em que, principalmente no ambiente escolar, as crianças têm contato com valores diferentes dos seus, pondo à prova aqueles aprendidos com a família. É quando, para ser aceito no grupo, pode abrir mão de valores familiares para responder a outras formas de controle. Crianças que já possuem antecedentes antissociais estão mais abertas à influência de outros, apresentando comportamentos socialmente inadequados para ser aceito no grupo de amigos. É importante que a escola identifique tais lideranças, neutralizando-as. É preciso treinar habilidades sociais, de forma que a participação da criança no grupo seja um fator de proteção do seu desenvolvimento. Nessa fase, começa a aparecer o preconceito (atitude desfavorável em relação a outros membros do grupo que, por algum motivo, destoam da maioria). Ele, em geral, aparece e é reforçado pelo grupo. O bullying (conjunto de comportamentos agressivos, geralmente maldosos, deliberados e aplicados de forma consistente e frequente em vítimas incapazes de se defender) torna-se mais frequente e impiedoso. A equipe escolar, principalmente o professor, deve estar atento para impedir que atitudes de agressão a outros aconteçam, utilizando estratégias de manejo comportamental. Incentivar a amizade em detrimento de disputas e competições é saudável e pode estabelecer um ambiente favorável para o desenvolvimento de comportamentos socialmente aceitáveis, que contribuam para o desenvolvimento dos estudantes. Os problemas de comportamentos mais frequentes nessa fase são: comportamento desafiante opositor (negatividade, hostilidade e provocação); fobia escolar (medo irrealista de ir à escola); e depressão infantil (transtorno afetivo caracterizado por sintomas como falta de amigos, falta de prazer, pouca concentração etc.).
A “tarefa“ psicossocial da idade escolar, ou seja, neste período, a criança deve adquirir a competência de realizar as tarefas acadêmicas. Ela está sendo alfabetizada e frequentando a escola, o que propicia o convívio com pessoas que não são seus familiares e exigirá maior socialização, trabalho em conjunto, cooperatividade e outras habilidades necessárias. Caso tenha dificuldades, o próprio grupo irá criticá-la, passando a viver a inferioridade em vez da construtividade. A postura do professor é um fator primordial, mais do que a dos pais, porque a criança precisa sentir-se competente também fora do lar, no convívio social e na aquisição das habilidades escolares. Nesta fase, o incentivo e atenção do educador são fundamentais. Enquanto a idade escolar é permeada por aquisições cognitivas importantes, que impulsionam o desenvolvimento psicossocial, não se observa mudanças físicas significativas. Ao contrário, na próxima etapa, a adolescência, além de mudanças físicas, observaremos mudanças cognitivas e psicossociais expressivas que preparam a pessoa para a autonomia e vida produtiva.
Com esse segundo texto, encerramos as informações sobre a infância e se você acha que tem muita dificuldade em lidar com seu filho, não hesite em procurar ajuda. A orientação profissional certa faz toda diferença.