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A adolescência

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São muitas as culturas em que ritos de passagem existem para demarcar o fim da infância. Em diversas delas, significa o início da vida adulta. Nas sociedades mais complexas, por exigir maior formação para o ingresso no mercado de trabalho, a passagem para a vida adulta pode ser mais longa e menos claramente demarcada. Para a classe média brasileira, o final da adolescência significa ter competência para ganhar seu próprio sustento e independência, o que pode acontecer por volta de 22 anos de idade ou com o ensino superior completo. Todavia, para uma grande parcela da população, esta fase termina por volta de 16 anos, com a possibilidade legal de ingresso no mercado de trabalho e, muitas vezes, com uma gravidez não planejada. Nestes casos, a ocupação não é especializada, resultando em ganhos baixos e pouca probabilidade de superar o ciclo da pobreza.

A adolescência, como um fenômeno cultural, não tem um final demarcado. Dizemos que o fim da adolescência ocorre quando a pessoa assume papéis sociais adultos, como independência emocional, afetiva e econômica, possibilidade de responder à legislação, de poder votar, casar- se, dirigir etc. São esses pequenos “rituais” que vão colocando as pessoas no lugar de adultas, deixando a adolescência para trás. A adolescência, portanto, é um fenômeno social e cultural que é visto de diferentes modos, dependendo do contexto social.

A puberdade é diferente, é um fenômeno universal, uma vez que as modificações do corpo, como crescimento e amadurecimento orgânico, vão ocorrer de modo semelhante para todas as pessoas, em quaisquer contextos. Neste sentido, a adolescência começa com a puberdade, processo que conduz à maturação sexual ou fertilidade e que significa a possibilidade de reprodução. A puberdade tem início mais cedo para as meninas, por volta de 11 a 12 anos, e dos 13 aos 14 anos nos meninos. É acompanhada por mudanças físicas que implicam em um crescimento de forma geral, independentemente do sexo. Tais mudanças têm desdobramentos psicológicos e é relativamente comum, nesse período, que tanto meninos quanto meninas fiquem descontentes com sua nova aparência e seu novo tamanho.

Segundo Piaget, o desenvolvimento cognitivo dos adolescentes chega ao estágio mais elevado das operações mentais, que é o das operações formais, quando são capazes de formular pensamentos abstratos. Podem aprender álgebra e cálculo, apreciam metáforas e alegorias, pensam em termos do que poderiam ser, imaginam possibilidades, geram e testam hipótese. Nesta fase, o adolescente se liberta do concreto e é capaz de, considerando determinadas situações, imaginar um conjunto de transformações possíveis. Seu desenvolvimento cognitivo é resultante de um desenvolvimento adequado nos estágios antecedentes, uma elaboração mais complexa das estruturas sensório-motoras e dos agrupamentos das operações concretas (DAVIS, 1982). Este autor defende que, para o alcance desse estágio, é preciso um misto de maturação cerebral e a expansão das oportunidades ambientais. O pensamento do adolescente se organiza a partir da linguagem ou de outro sistema simbólico, como a matemática. Por estes caminhos, ele é competente para formular hipóteses, chegando a conclusões que independem da verdade de fato ou da observação. É capaz de pensar em alternativas de ação, substituindo eventos concretos por suposições. Isto é, diante de um problema, é capaz de levantar todas as hipóteses possíveis e, a partir delas, tirar conclusões. Isso caracteriza o tipo de pensamento desse estágio, o hipotético-dedutivo. Seu pensamento está além das possibilidades do seu cotidiano (DAVIS, 1982). Ao final da adolescência, as estruturas cognitivas permitem que o pensamento do adolescente seja flexível, versátil e reversível, possibilitando o uso de várias operações cognitivas na resolução de problemas. Tal capacidade de refletir livremente torna possível o estabelecimento de projetos de vida que orientam a sua ação. No entanto, até que esse tipo de pensamento lógico se estabeleça, o adolescente experimenta um período de desequilíbrio, que se apresenta como uma crença ilimitada na sua capacidade de alterar a realidade. Inicialmente, diante de problemas do cotidiano, as soluções são, ainda, desprovidas de senso de realidade. É quando almejam profissões sem atentar ao esforço necessário para chegar lá, pensam em ser astronautas, ídolos de futebol, da música, ou ainda que vão salvar o mundo. O fato de valorizarem a convivência com os seus pares pode estar relacionado com a questão de que o mundo dos adultos sempre tenta demovê-los de ideias fantasiosas, o que os incomoda. Nessa fase é importante que a escola apresente, nas diferentes disciplinas, possibilidades de pesquisa e de reflexão, atentando para a viabilidade das hipóteses explicativas levantadas. Promover fóruns de discussão em qualquer área do conhecimento, inclusive política, auxilia o adolescente a organizar logicamente suas ideias, experimentando a oportunidade de vivenciar as soluções propostas, se lógicas ou não.

Todavia, a aquisição de maneira incipiente desse tipo de raciocínio, o abstrato, pode levar os adolescentes às atitudes negativas que Elkind (1998) descreve como: (a) tendência a discutir, uma vez que estão sempre buscando testar e exibir suas novas aquisições em termos de raciocínio e destreza verbal; (b) indecisão diante de várias possibilidades, parecem ter dificuldade de fazer escolhas simples; (c) encontrar defeitos em autoridades, pois eles percebem que os adultos estão aquém da figura que eles idealizaram e têm necessidade de dizê-lo; (d) hipocrisia aparente, quando não reconhecem a diferença entre expressar um ideal e fazer os sacrifícios necessários para viver de acordo com ele; e (e) suposição de invulnerabilidade, ou seja, crença de que suas experiências são especiais e únicas e que não estão sujeitos às mesmas regras que regem o mundo, o que pode levar a comportamentos autodestrutivos. Nessa etapa, um fator importante é o desenvolvimento da autoeficácia (entendido como a capacidade de enfrentar desafios, de propor e alcançar metas). Os estudantes já devem ser capazes de assimilar o material acadêmico e de regular sua própria aprendizagem.

No período da adolescência, o corpo se transforma radicalmente. Há um luto do corpo e da identidade infantil para assumir outro corpo e outra identidade. Tanto os adolescentes quanto os adultos sofrem com isso, uma vez que estes, muitas vezes, não sabem como tratar e lidar com a mudança de gostos, desejos, ideias e vontades. A criança “obedece” e segue as regras, os adolescentes experimentam e testam os limites de suas opiniões: “eu quero”, “eu gosto”, “eu vou”. Às vezes, a intenção nem é agredir ou enfrentar o adulto, mas testar a si mesmo (“eu sou”) e a possibilidade de expressar sua identidade que ainda está em desenvolvimento. Nesse sentido, a noção de pertencimento ao grupo é fundamental. Ao mesmo tempo em que não seguem regras dos adultos, seguem regras do “líder da tribo”, da melhor amiga, do ídolo da TV, da moda… porque se esconder no anonimato do grupo é mais confortável. Exemplo: “Não fui eu que xinguei a professora, foi a sala”. É preciso trabalhar para que os adolescentes entendam as regras e façam parte da construção delas. Entendendo as regras e os limites, eles acabam por ajudar tanto a responder a elas quanto a cuidar para que seus pares também o façam. Por isso, não é eficiente impor com autoritarismo uma regra, muitas vezes sem sentido ou arbitrária, porque com isso os adolescentes questionam, rompem, sentem-se agredidos e reagem com agressão. Adolescentes precisam de limites e orientações que devem, em geral, ser apresentados e discutidos. Raramente regras e normas devem ser impostas.

Espero que o texto tenha ajudado a entender melhor a fase que seu filho está passando, e se você gostou do texto deixe um comentário e se quiser sugerir algum tema também.

 

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