As causas do baixo rendimento escolar, quando mal diagnosticadas, retardam o tratamento adequado, trazendo com frequência prejuízos para a auto-estima da criança. Isso acontece comumente com o portador do Distúrbio do Processamento Auditivo Central – DPAC, um transtorno pouco conhecido e que muitas vezes é confundido com falta de inteligência.
Ao ouvirmos um som ou uma mensagem, uma série de processos se sucedem no nosso cérebro, permitindo a interpretação e a análise dos eventos sonoros. Tal processo envolve, predominantemente, as estruturas do sistema nervoso central, daí o nome “Processamento Auditivo Central – PAC”.
Assim, alguma disfunção ou deficiência no PAC pode comprometer a identificação e entendimento dos ruídos e sons que nos cercam, impedindo-nos de usar plenamente todas as nossas habilidades auditivas, que incluem detectar, localizar, discriminar, reconhecer e compreender o som ouvido, o que em resumo significaria lidar com as informações recebidas através da audição.
“Localizar o som é saber sua origem, distância e direção; reconhecê-lo é saber o que é um carro buzinando ou um miado de gato”; discriminá-lo é perceber as semelhanças e diferenças nos sons verbais; e compreendê-lo pode ser a memória auditiva, em que é possível sequencializar, organizar e depois executar o que foi dito. Logo, ter uma boa audição, ou seja, ouvir bem, nem sempre é o suficiente!”
O DPAC não é considerado uma doença, mas apenas uma disfunção que tem cura. No entanto, segundo Marcia, o distúrbio traz várias dificuldades para seu portador, que com frequência não entende o que é dito e repete muito as expressões: “Ah?”, “O quê”, “Pode repetir?” ou “Não entendi!”.
Essa criança, também pode apresentar problemas de fala envolvendo principalmente os sons /r/ e /l/; pode ainda apresentar dificuldades com o significado das palavras; se atrapalhar para contar uma história ou dar um recado; ter dificuldade de compreender o que lê; de associar o alfabeto com os sons respectivos e até de aprender uma língua estrangeira. Por consequência, crianças com DPAC apresentam rendimento inferior em leitura, gramática, ortografia e matemática.
Causas, diagnóstico e tratamento
As origens do DPAC podem ser variadas e podem surgir em qualquer idade. Entre as causas mais comuns estão: a genética; otites frequentes durante os três primeiros anos de vida; processos alérgicos respiratórios, como sinusites, rinites e até mesmo refluxo gastro-faríngeo; perdas auditivas, mesmo de grau leve; alterações neurológicas e desnutrição.
O primeiro passo para o diagnóstico, é a avaliação audiológica básica (audiometria tonal, audiometria vocal e imitanciometria) para verificar o quanto a pessoa escuta e se há ou não líquido e inflamação no ouvido.
Depois, então, faz-se o exame de avaliação do processamento auditivo central (PAC) para detectar se há desordem, qual o tipo e o grau de severidade. O exame é feito dentro de uma cabine acústica com fones de ouvido e dura de 60 a 80 minutos.
Com esse exame, o fonoaudiólogo, especialista em audição, avalia como o cérebro está interpretando as mensagens recebidas, mede a capacidade de conversação do paciente em ambientes ruidosos e mede ainda o nível de alteração e o tipo e local da disfunção no sistema auditivo central.
A partir dessas informações muita coisa pode ser feita para ajudar. O tratamento é basicamente o treinamento auditivo com o fonoaudiólogo (especializado em audição e linguagem) para treinar as habilidades auditivas que estão alteradas. Em muitos casos o tratamento é multiprofissional, com apoio de psicopedagogos, neuropediatras e otorrinolaringologistas.
A duração depende do paciente, mas em geral o tratamento é de médio a longo prazo, podendo variar de seis meses a dois anos dependendo do tipo e grau da severidade.
Dicas para os pais de crianças com DPAC:
– a criança deve ter incentivo para melhorar a auto-estima;
– barulhos e ruídos prejudicam mais ainda a concentração dessas crianças, portanto é importante evitar na hora dos estudos, tanto em casa quanto na escola, espaços com poluição sonora;
– na escola, é preferível que a criança se sente o mais perto possível do professor e se mantenha afastado de portas e janelas para ficar mais protegida dos barulhos